sexta-feira, 14 de maio de 2010

Viver: arte de ir além do limite permitido? (ao som de "Black is the colour of my true love's hair", by Nina Simone, Jaffa Remix)

Música acessível em:
http://www.youtube.com/results?search_query=nina+simone+black+is+the+color+remix&aq=f

Som de trânsito. 20 horas de 12 de maio de 2010.

O Vento úmido sopra, vento úmido e frio da noite. A lua aparece, entrecortada por nuvens de diferentes tonalidades da cor roxa. O vento úmido sopra, vento úmido e frio da noite. Ao abrir o sinal, os carros passam, atropelando as gotículas de chuva. O vento úmido sopra... úmido e frio, na noite. O outono ainda tem força para mostrar seus sinais. Na sombria e clara cidade, resta a dúvida crucial:




Débito ou crédito?



As vidas correm a 70 km por hora, algumas (muitas) ultrapassam a velocidade máxima permitida. Mas o mundo sempre quer mais, mais rápido e em mais quantidade, exigindo que você descumpra a norma para que você possa cumprir as suas (do mundo) normas. Viver: arte de ir além do limite permitido, sem que o peguem. Um esboço de chuvisco cai, dando um ar mais sofisticado para as ruas do centro, ruas escuras com seus postes de luzes brancas. A moça olha por um instante o rapaz, dá um luminoso sorriso, e diz:



Sem cebola, por favor.



E se protege do carro, que estava passando perto da sarjeta. Havia dito, chove. Ela conta os trocados, dá os trocados. As vidas correm a 70 km por hora. Vidas, carros que comportam somente o motorista.



Para onde vão todos? Ou melhor, como vão todos? Com tanta velocidade, ainda é possível pensar na viagem? Ou será que sua (da viagem) beleza se perdeu nessa velocidade tendente a infinita, tendente a instantânea? Velocidade tendendo à instantaneidade; velocidade tendendo, paradoxalmente, à imobilidade. Todos paralisados no momento de estar tentando conseguir algo.

Chega. Hoje à noite, eu vou parar.

Nesse exato momento, eu gostaria é de conseguir um abraço e duas taças de licor de cacau.

Duas de amêndoas. Débito.