terça-feira, 24 de maio de 2011

Discutindo relação com a Tese (ao som de "Is You Is or Is You Ain't My Baby, by Anita O'Day)

Música acessível em:
http://www.youtube.com/watch?v=U6MY--5KX24&feature=fvst

Um meio de madrugada penetra pelas frestas da persiana, silenciando e escurecendo o quarto. O quarto, por sua vez, tenta se defender da escuridão de 3 da manhã utilizando a luz do abajour. Hesito em continuar a escrita. Posiciono o abajour em direção à tela do computador, privando os textos de luz.

Tomo um gole de Amarula. Suspiro. Reluto em escrever em primeira pessoa. Seguro a cabeça com a mão direita, olho para a esquerda, admiro minha estante cheia de livros, a grande maioria já lidos. Amanhã, muito trabalho a fazer. Suspiro. Tomo outro gole de Amarula.

Estou em crise de relação com meu objeto de pesquisa. Não sei, talvez o nosso relacionamento esteja esfriando... Está me faltando uma mobilização afetiva. Quero dizer, tenho vontade de pensar, de escrever, mas parece que as coisas estão presas, represadas em algum canto obscuro da minha mente. Esse afeto está precisando se movimentar, se exprimir, se demonstrar explicitamente. Parece que está tudo trancado aqui dentro.

Tenho de arranjar um jeito de resolver isso. Aliás, eu tenho de parar de tentar arranjar um jeito de resolver isso. Tenho me relacionado mais com meu bloqueio criativo do que com minha tese. Talvez seja exatamente por isso que estejamos nos distanciando. Suspiro. Balanço a taça de Amarula.

Vou ver se amanhã compro uns petiscos diferentes, uma bebida ligeiramente distinta, crio um clima, e acerto as coisas. Nós precisamos nos reaproximar... namorar um pouco. Mas, para isso, é necessário a gente ter um tempo de admiração recíproca, se redescobrir. São coisas como essas que sustentam uma relação.

Bem, tese, amanhã vamos jantar juntos. Só eu você. Como quase sempre, aliás. Suspiro. Salvo. Publico. Fecho.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Notas de bloqueio na escrita (ao som de "Coming Into Los Angeles", by Arlo Guthrie)

Música acessível em:
http://www.youtube.com/results?search_query=coming+into+los+angeles&aq=f

Luzes apagadas, abajour aceso, mate no copo, chocolate à esquerda. Livros organizadamente espalhados pela mesa.
A mente parece paradoxalmente apagada e ofuscante ao mesmo tempo. Para onde você quer ir, escritor? Para onde você quer ir, escritor?

As idéias embaralhadas se aglomeram, formando um amálgama, um simulacro, que se move ao som da minha ansiedade. Tento subir, tento subir.

Para onde você quer ir, escritor? Para onde você quer ir, escritor? Consegues apenas se afogar em suas próprias idéias.

E a escrita não desce. E as idéias amontoam-se, crescendo como uma massa de bolo em uma forma pequena demais para suportá-la. Crescem em velocidade e proporções tumorais. Idéias se voltando contra o próprio criador, insistindo em não tomar forma.

Respire escritor, beba de sua própria confusão. Afogue-se. Morra um pouquinho em suas idéias. Tome um gole. Ficar se debatendo não vai adiantar. Não resista.

Você quer ir para lugares demais, escritor. Selecione os lugares. Depois vá. Mas vá para um lugar de cada vez. Se quiser, você poderá permanecer em um lugar enquanto se dirige a outro. Calma escritor. Calma.

E então? Para onde vamos agora, escritor?