segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Fotos. Fernando Pessoa. (feche a porta e a janela. Quero o som do silêncio)

Basta pensar em sentir
Para sentir em pensar.
Meu coração faz sorrir
Meu coração faz chorar.
Depois de parar de andar,
Depois de ficar e ir,
Hei de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir.

Viver é não conseguir.

(Fernando Pessoa)

Ando perdido. Entre projetos e escritos, conclusões e arcabouços. Entre Gilles Deleuze e Fernando Pessoa. Vinho chileno e gelatina com leite condesado. Eu não sei de meu passado de forma organizada. Na verdade, já não me importa. Antes, admirava aquelas pessoas que seguiam a linha reta da vida. Já não sei o que pretendo. Aliás já não pretendo. Apenas me incomodo. Já não faço planos, estou cansado; meu português está cansado, escasso, e por vez ou outra tenho de voltar e corrigir um tolo erro de ortografia. O Gilles Dizia que era como uma menina passeando pelos campos... isso era uma maneira de ele dizer que era filósofo e, diferente do Félix Guattari, não tinha de preocupar-se com pacientes.

Esta menina me lembrou outra, não lembro se era a Alice ou Dorothy. Acho que era a Alice. Ela não sabia por onde deveria seguir. O gato perguntou (acho que era a Alice mesmo):

-Mas, para onde você quer ir?
Ela respondeu:
-Sei lá, para qualquer lugar.
Ele retrucou (é talvez meu português não esteja tão ruim):
-Então não importa para onde seguir (Vá pra qualquer lugar, ô pentelha!)

Eu estou exausto. Vou descansar um pouco. chega de fazer planos entre a execução de um plano e a execução de outro plano. Bem, depois eu vou andando. Vou por aí... Sem procurar.

Um bom 2008 para as almas que me acompanham (elas existem, falam comigo e deixam recado no orkut, não são alucinações. Mas peço, aqui, que deixem de timidez e se esponham. Comentem).

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

É chique. Simples assim.

Resolvi fazer uma lista de coisas chiques no Rio de Janeiro... reuni as mais escutadas... vamos lá...

É chique ser espiritualizado,
é chique ser politizado,
é chique querer relacionamentos verdadeiros.
É chique, para homens, abraçar homens meio de lado.
É chique saber distinguir ao menos três tipos de música eletrônica. A propósito, ectasy é chique.

Chique é viver na velocidade.
Chique é "ganhar experiência" (em todos os sentidos da expressão).
É chique ser vivido. Fico impressionado com a quantidade de pessoas vividas (acho que os hindus estavam corretos).
Aliás, é chique falar que a vida está corrida. Deve ser por isso que são tão vividos. E acumulam tanta experiência.
É chique querer relacionamentos verdadeiros.
É chique ter fodas casuais.
É chique gostar de maracatu.
É chique gostar de samba.
Ninguém sabe, mas é chique não saber a origem de um ou de outro.
Aliás, é chique gostar daquele samba-com-voz-em-tons-pastéis-pra-zona-sul-na-Lapa.
É chique ter fotolog.
É chique ter orkut.
É chique ser bi.
Me desculpe, mas se você não tem um msn, você é um pária.
É chique ter um pensamento engajado, se você está em trocas sociais.
Com tanta velocidade, maconha é cool.
Mas se você gosta de pensar questões sociais ou políticas, ou mesmo históricas... É chique. Trés chique.
Beijar o rosto é chique.
Nada mais chique que “amiga”. “Amigão, gente boa” pra nós, caras.
É chique criticar a mercantilização do Natal. É chique criticar a mercantilização do mundo, a propósito.
Mas se você usar cores sóbrias, você é um nada. Sorry.
Aaaahhh... Esqueci: é chique ter blogs. E comentá-los.
A moda da customização é demodé.
“O caçador de pipas” é leitura obrigatória. Obrigado, Ana.
Mas lembre, ser chique não é uma questão de cumprir os requisitos... Tipo assim, tem que ter... Um estilo sabe? Não é fazer estas coisas que te deixa chique. Chique, mais importante que tudo isso, é ser descolado, não querer ficar aí, todo triste, pensando nas coisas ruins do mundo. Você vai acabar ficando maluco(a). Para com isso, vai, bebe aí...

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Resposta a Moana que respondeu ao Christian

Solidão, carregada como se fosse o peso do mundo, é a escolha máxima do criador, para dar forma a criatura.
O criador é ingênuo, pensa Fausto, pensa que pode alguma coisa. Mas... Ele é criado ao mesmo tempo que a criatura. Submetido ao Palco.
Sim, Moana, o palco é grande demais, mas a platéia é pequena -ou nula, ou quase nula. No mais, fazem ruído e se entorpecem com cerveja. No mais, escolheram cuidadosamente as roupas que aprenderam que são devidas, e se prostam como ovelhas, não para escutar, mas para serem boas ovelhas ao olhos de todos. Não é à toa que quase todas as religiões conhecem (bem) a música.
De qualquer modo, de Brahma ou de Armani, são ruído. Não são platéia. O artista grita, na esperança de ser escutado. Frente ao ruído, o que resta é gritar, não somente para ser escutado, mas para não sucumbir frente ao ruído que o esmaga. Procurava o spot perfeito, o melhor balaceamento no microfone, foi engolido pelo Palco, o soberano. Pouco a pouco, ele não vive mais a arte. A arte vive nele. E vaga, pelas ruas desertas da metrópole ou da província, a procura de alguém. Destino determinado pelas numerosas ovelhas. Dizia Hegel: a quantidade é uma qualidade negada.
Antes vedete, agora bardo. Não, nada mais importa. Os apalusos são mirrados porque são de poucos outros... artistas. E a ex-vedete segue, criada por sua arte, a procurar, por todo o canto, outras ex-vedetes, para se apresentar... ser aplaudida. E, assim, ter certeza de que ainda está viva.
Aos poucos, se unirão. E, aos poucos, costroem novo palco... E estarão felizes. E, felizes novamente, poderão, enfim, procurar o spot perfeito!
Mas uma delas se incomodará porque todas as outras só querem parecer boas ex-vedetes ao olhar das outras... não são platéia. São apenas ruído.