quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O que você pretende fazer de sua vida enquanto ela passa diante de seus olhos? (ao som de "Mr. Bojangles", by Nina Simone)

Música acessível aqui

É sério, parece uma pergunta banal, ou uma pergunta de fim de noite.


Mas é uma pergunta real. O que você faz? O que você faz entre uma página e outra, entre um samba e outro, entre uma e outra contração de bíceps, entre um texto e outro?


Quando você sair para a rua, na próxima vez, repare nas pessoas. Aqueles jovens com roupas populares, com rosto amarelo, sorriso amarelo, realizando pagamento para o patrão.
As mulheres -eu adoro as mulheres, elas são mais criativas que nós- com aqueles fabulosos peitos e coxas, coxas perfeitas, modeladas em série na academia. Gostosas. Coxas que virarão coxas de senhoras frígidas e de maquiagem carregada, aos 65 anos. E também há aquelas senhoras humildes, que trabalharam muito, apesar de dizerem que trabalho é conquista da mulher moderna. Elas, tão idosas, caminham olhando para baixo, como se tivessem de pedir licença para caminhar pelas ruas.
Há também aqueles senhores que vão sempre aos mesmos lugares, pedem as mesmas coisas, falam as mesmas coisas. E falam que os tempos antigos eram os melhores, e ficam horas recordando o tempo passado. Vocês conhecem o tipo. Também há os intelectuais: os de esquerda, os de direita, e os "apolíticos" -só os intelectuais têm o direito de querer não se meter em política sem parecer feio. Não são desinteressados, são apolíticos. Eles falam as mesmas coisas que os primeiros senhores, mas utilizarão tantos termos que você precisará ler muuuito antes de dizer alguma coisa. Penso que a estratégia deles é essa.
O que eles fazem, entre um passatempo e outro? Ou entre um entretenimento e outro -qual é a função do entretenimento que não fazer passar o tempo?
E você, o que você faz, enquanto você joga a sua vida em vícios ou atitudes perigosas -ou ao contrário, enquanto você trabalha duro para chegar lá?
Ah, meu bem, deixa eu te contar um segredo: não há nenhum "lá". E quando você chegar lá, na primeira fila, você vai perceber que você não consegue enxergar o espetáculo direito. E, se olhar direito, você vai perceber que gasta muito tempo se mantendo "lá".
Ahhh... Tudo voa. Uma hora, tudo voa. Tudo acaba. A firma vai a falência, o peito vai à falência, vão descobrir alguém mais talentoso que você, ou mais bonito que você, ou mais jovem, o pau vai à falência. E, não preciso ir muito longe, não: você vai ficar velho, baby. Ou velha; velha mesmo, ladies.
Prestem atenção neste silêncio que há entre um tique e um taque do relógio. Mas não durante muito tempo. Porque é enlouquecedor. É por isso que todos vocês procuram fazer passar as suas vidas, digo, o tempo. Porque eles, vida e tempo, são cheios de buracos com sentido por fazer. Na verdade, a vida é um buraco com sentido por fazer. O resto, o passatempo, o entretenimento, são somente ilusões para você não perceber o passar da vida. Ou melhor, do tempo.
Mas, então, o que você faz? O que você faz entre uma página e outra, entre um samba e outro, entre uma e outra contração de bíceps, entre um texto e outro?
Não responda.
Pense. E faça, o que quer que seja, de sua vida, mas faça sua vida uma vida bela. E não somente um passatempo... Ou entretenimento.

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